segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Somente Macacos


O sofrimento trás crescimento e a cegueira temporária, uma maneira melhor de ver a vida.
Às vezes somos tão resistentes às mudanças, que acabamos vivendo aquela situação infeliz por tanto tempo que depois não conseguimos mais sair daquilo. O medo de mudar de emprego, cidade, curso na faculdade. O medo de comprar uma coisa que sai um pouco do orçamento, de fazer uma viagem que pode mudar nossa perspectiva sobre as coisas.
Quero deixar de pensar na “Vida como ela é” a La Nelson Rodrigues e pensar na vida como eu quero que ela seja. E a minha decisão de viver assim me fez perceber que a visão que eu tinha sobre tudo estava condicionada a não me fazer me sentir desconfortável.
E eu passei a pensar mais longe.
Todo mundo sabe que minha mente é hiperativa. Eu suprimi isso por muitos anos, e agora só quero dar vazão ao que penso, analisar as coisas de uma maneira livre e, que se dane quem não concordar com que eu vou dizer, afinal, eu posso mudar de opinião amanhã. Deixei de ter receio de dizer, de pensar e de publicar, e amém pra quem ler.
Mas também não quero fazer do blog um diário virtual, afinal, sou entediante. Então quero falar de uma música que ouço faz tempo, mas que pra mim tomou um significado muito diferente nessas últimas semanas. Vocês podem encontrar a letra aqui, vou escrever só sobre algumas estrofes e o vídeo está lá embaixo. A música é Pretend That You're Alone, do Keane e fala sobre as nossas neuras sociológicas.
A letra deixa clara a importância que nós, seres humanos, damos a nós mesmos. Qual é a diferença entre nós e os outros animais, já que se chegamos ao ponto em que chegamos, temos uma sociedade “tecnológica” foi só o instinto de sobrevivência que nos fez isso? (We are just the monkeys, who fell out of the trees/Somos só macacos que descemos das árvores).
A verdade é que o ser humano é um produto evolutivo. Viemos dos covardes, que fugiam dos perigos e sobreviveram. Viemos dos assassinos que mataram para se proteger e tiveram descendentes. Viemos dos fracos, que não lutaram nas guerras, mas tiveram filhos.
Somos seres egoístas, orgulhosos de nós mesmos e com tantas falhas de caráter que não sobreviveríamos sãos de uma análise fria e profunda.
Eu sou do tipo que dou tanta importância aos meus problemas que eclipso os problemas dos outros, até o momento em que paro e penso que ainda tenho muitas coisas pelas quais posso dar graças. Mas esse meu egoísmo não vem de mim, vem de quem nós somos. Eu sou só mais um ser humano torto, que se acha especial. (And love is just our way of looking out for ourselves/ Amar é uma maneira de cuidarmos de nós mesmos).
Dou uma importância imensa ao amor. Frequentemente falo que amar alguém além de nós mesmos é a única maneira de evoluirmos como pessoas. Você poder se doar para alguém que não tinha nenhum vínculo anterior contigo. O ser humano pode fazer conexões. Minha visão disso não mudou, mas em dias cínicos como o de hoje, penso se isso é realmente é verdade. Amamos por que queremos nos dar para alguém ou queremos alguém que esteja lá por nós. Alguém que nos seja “exclusivo”, alguém que funcione como mais um membro do nosso corpo. Falava com um amigo sobre o egoísmo do começo dos relacionamentos. Ou você não quer ficar sozinho, ou sente tesão, ou quer ser visto com alguém, ou perceber que alguém te admira e manter essa pessoa por perto. Acreditar em amor à primeira vista seria a única maneira de me fazer imaginar o começo de um relacionamento como algo não egoísta. Infelizmente, não chego a ser romântica a esse ponto.

I wonder what I'd do, if I could wake up every morning
With a clean slate
I'd burn through the cities, I'd tear through the towns
Cos there's no deals to make


Então chegamos a nós, crus. A tábua rasa. A clean slate.
Lembro daquela música que perguntava “O que você faria se só te restasse um dia/ se o mundo fosse se acabar, me diga o que você faria?”
O que você faria?
Se você pudesse se despir de todas as convenções sociais, fazer o que quisesse. O que você faria? Quem você seria?
Você seria satisfeito. Feliz. Despido de qualquer trava.
Não viveria muito, claro. O mundo seria um mar de sangue, sexo e assassinato. Mas o mundo já é assim. Por mais que pensemos que estamos seguros, nem dentro de casa podemos dormir sem um olho aberto, por que meu amigo, você não conhece ninguém. Você não se conhece. Amanhã alguma coisa pode explodir em sua cabeça e você pode ter seu dia de fúria, espancar sua mulher, brigar com alguém no trânsito e ir para a cadeia, dar um soco no seu professor ou trair seu marido por que ele não levou leite pra casa.



Pretend that you're alone now
And everything's gone
Just animal reflex
There's no one looking on
Forget about religion
Forget about shame
Pretend that you're alone now

Imagine um dia que você pode sair na rua e ninguém vai perceber o que você está fazendo. Ou melhor, finja que você tem um super poder. Você faria algo de bom?
Tente esquecer Deus, tente não pensar no que os outros pensam de você. Imagine que você é só instinto, o que você faria?
A única maneira de sobrevivermos é fingir que somos o que achamos que somos. A única maneira de vivermos é nos sentirmos úteis, traçarmos objetivos, vivermos para algo ou alguém. O egoísmo, tão natural e instintivo, é visto com algo rum e pode destruir uma pessoa, por que alguém egoísta nunca pode ser feliz em uma sociedade como a nossa, onde somos forçados a viver para os outros. Você vai ser julgado, condenado e apartado das outras pessoas. Você vai ser sozinho e se sentir sozinho, por que seu egoísmo não vai funcionar se ninguém te ouvir ou se importar com você. Então você vai esconder quem você é e viver de acordo com as regras que não são suas e um dia, amigo, você vai explodir, perder tudo e ainda achar que é infeliz. Mas não, você não é infeliz, você só está refletindo a opinião de uma nuvem chamada sociedade, que acha que se todos forem iguais, e tiverem as mesmas intenções, o mundo vai ser um lugar melhor.
Não, o mundo não vai ser melhor.
So, pretend that you’re alone now...what will you do?

We cling to all our lives
Cos we are just the monkeys, who fell out of the trees
When we were trying to fly




3 comentários:

  1. Visão um tanto quanto pessimista, você não acha? Sei que a sociedade nos impõe limites e que, de fato, a nossa liberdade é ilusória. Contudo, quando decidimos viver em sociedade, você não acha que, não é só a nossa opínião que esta em jogo. Há outras pessoas envolvidas com seus seus desejos, pensamentos e atitudes diferentes das nossas, sendo assim não podemos impor um mundo do qual queremos aos outros, pois, este pode não ser o mundo que eles querem. Então, a meu ver deve-se haver um consenço para um comvívio em sociedade, mesmo que isso venha a limitar a nossa liberdade. Considetando tais colocações, se você tivesse que escolher entre uma liberdade absoluta (se é que isso é possível)e o convívio em sociedade que te limita; com qual você ficaria?

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  2. Diogenes. eu sou social. Gosto de limites. Gosto de saber que funcionamos através de uma engrenagem maior. Mas isso não disfarça o fato de que todas as nossas frustações vem do fato de que não podemos ser exatamente quem gostaríamos. Se eu pudesse dar um pouquinho de vazão para meus sentimentos, não precisaria, por exemplo, tremer de raiva e engolir a vontade de dizer algumas verdades para alguém que me irritasse ou magoasse. A sociedade não nos faz só reprimir o instinto. Nos poda completamente em nome da "boa educação". Lembra quando eu te disse que gostava quando você me mostrava que eu não posso ficar por cima todas às vezes. Sabe por que eu gosto? Quanto mais a pessoa se acha melhor que as outras, mais insuportável e infeliz ela se torna. Eu não quero ser assim, mas será que não quero ser assim para ser feliz por mim mesma, ou para agradar as outras pessoas. Think about!
    By the way, foi só um desabafo. Eu não me sinto presa nos grilhões da sociedade por que sou careta e certinha (na maioria das vezes), mas pense sobre todas as pessoas que desejariam uma uma sexual, social, profissional diferente do que tem e não podem abrir mão da aprovação social para serem quem gostariam...

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  3. Acredito que seja como eu comentei anteriormente, é uma questão de escolha, e as vezes a liberdade tem um preço muito alto. Se a pessoa estiver disposta a pagá-lo poderá se aproximar do seu objetivo, porém pelo simples fato de que ela terá de enfrentar algo para chegar aonde deseja já limita a sua liberdade, afinal é a opinião de muitos que esta envolvida não apenas a dela.

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