Esse fim de semana terminei a
releitura de Buick 8. Resolvi ler novamente por que no “fã clube” do king – de que
faço parte – meus coleguinhas criticaram bastante o livro.
Contem Spoiler lá embaixo, ok?
Buick 8 é a história de um
regimento da polícia estadual da Pensilvânia, que tem a “guarda” de um carro
(muito estranho) que foi abandonado num posto de gasolina.
O carro tem um motor zuado que
não funciona, uma chave de ignição que não é uma chave, só um pino, e repele
sujeira. O carro parece um Buick, mas não é EXATAMENTE um Buick.
O Regimento D é um esquadrão de
policiais de rodovia, que – por não saber explicar o que o carro é – o mantém
em um galpão, em segredo, por mais de 20 anos.
O carro é, na verdade, um portal
para outro mundo. Se abre de tempos em tempos, e às vezes manda coisas para o
galpão, às vezes tira coisas dele.
Agora vamos aos fatos.
A narração do livro é feita a
partir de vários personagens que contam a história para o filho de um policial
que morreu à serviço no regimento D. a narrativa de Buick 8 não é das melhores
do King, por que muitas vezes me deixou um tanto confusa quanto a quem estava
falando, mesmo que cara capítulo tenha o nome de quem está contando a história.
Também notei umas disparidades
temporais. Pode ser implicância minha, e a história começa em 79, mas acredito
que o livro não tenha, realmente, sido escrito em 2002, como King alega.
No meias, gostei muito do jeito
como ele conduziu o desenvolvimento do relacionamento do regimento com o carro.
Ele deixa uma sugestão de que o carro é um personagem e o Regimento D é outro. O
legal também é o ar de segredo de polichenelo que King dá ao fato de o Buick
ser “propriedade” do D. em dado momento ele diz que mais de 100 policiais
passaram pelo regimento nos últimos 20 anos, e que todos sabiam sobre o Buick,
e que todos guardaram segredo. Todos sabem que é impossível guardar segredos,
quando muitas pessoas o conhecem, e isso faz do D um corpo especial.
Quanto aos monstros.
O Buick pari monstros. De repente,
luzes começam piscar, a temperatura começa cair e o porta malas abre, soltando
uma criatura.
Aqui que eu acho que houve uma
sacada sensacional.
King brincou com a capacidade
cerebral e linguística para descrever os bichos que saiam do carro.
Como boa graduada em Letras,
estudei Semântica e Linguística, e acho que King também usou disso na
composição deste texto.
A primeira criatura que sai do
carro (horrível como todas) é uma “coisa morcego”. É diferente de qualquer
coisa já vista. É apavorante. Não parece com nada já visto, mas eles a chamam
de coisa morcego por que morcego é o que mais chega perto de descrever aquilo. NÃO
SE PARECE NADA COM UM MORCEGO.
Acho isso lindo, como achei ao
ler Matéria Cinzenta.
O cérebro humano é incapaz de
processar certas imagens. Aquilo fica parado na nossa mente, até que façamos a
adaptação necessária para compreendermos.
King chega a te a dizer, através
de um dos personagens que “o carro não é um carro, mas é assim que nós o vemos”.
Outra coisa bacana - e totalmente
coerente – é a intenção do capitão de explicar que o Regimento D funcionava
muito bem, obrigada.
Eles tinham um portal
sobrenatural para outra dimensão à 5 metros deles, mas conseguiam realizar as
atividades diárias com competência, sem ao menos pensar tanto no Buick, pelo
menos quando ele estava dormindo. Isso por que “com tempo e esforço, o ser
humano acostuma-se com qualquer coisa na vida”. O que também é verdade.
Acredito que muitos livros do
King te dão aquela faísca de pensamento pra ficar desenvolvendo depois. Mas em
Buick, essa faísca é bem forte.
Livro divertidíssimo, que gosto
muito.
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