terça-feira, 13 de abril de 2010

A puta e o Joyce

Não podia deixar de falar sobre o tema da minha pesquisa de conclusão de curso, claro.

Creio que as criticas e análises literárias devem ser lidas e estudadas apenas no meio acadêmico. Como essas pesquisas são chatas por natureza, acredito que poucas pessoas fora dos meios acadêmicos realmente leiam (às vezes nem os próprios pesquisadores lêem o que os colegas escrevem).

Afirmo isso por que a análise literária tem um efeito brochante.

Imagine que você é um homem que vê uma mulher na rua e a acha linda. Tão linda que a segue até em casa e a espia pela janela. Quando ela vai para o banho, e tira a roupa, você descobre que ela tem celulite, os seios são de enchimento e a maquiagem é realmente muito boa.

Ler análises literárias é espiar pela janela. Você vai encher sua cabeça com informações que não são relevantes na obra.

Sempre discutimos (colegas, amigos, professores) sobre o porquê dos livros. O motivo de alguns serem considerados clássicos e recomendados e outros serem considerados lixo que não deveria ser dignos das prateleiras.

Porra, os livros foram feitos para serem lidos! As análises e as criticas são a filosofia por trás da arte, e como toda boa filosofia, obscurece o óbvio.

Bom, minha pesquisa.

Trabalhei com um livro brasileiro, do autor Nelson Magrini. O livro, Anjo: a face do mal. A perspectiva da pesquisa, psicanalítica.

Foi interessante trabalhar com o tema, o texto e tudo o que pude concluir daí. Os horizontes de uma pessoa podem ser muito expandidos quando ela faz uma pesquisa desse gênero. Eu aprendi sobre teorias psicanalíticas, muito sobre histórias da literatura inglesa, alguma coisa sobre religião...e o livro?

O livro é bom, com algumas coisas bobas, mas realmente bom, um livro que recomendo e que até dei de presente.

É divertido.

Nele o grande e satânico Lúcifer é um cara bonitão e com poderes inesgotáveis, desde que tenha por perto o humano Lucas, que potencializa seus poderes neste plano físico. Lúcifer está na Terra com a missão de parar um novo ser desconhecido que passa para as pessoas a sensação de paz angelical antes de afogá-las em um mar de sangue. A sacada do livro é manter uma história como essa entremeada com o dia a dia da cidade de São Paulo. Misturar anjos com demônios e orixás. Jogar uns policiais e traficantes no meio e, por fim, juntar naves espaciais em uma jiha.

E então eu pergunto de novo...dá pra se divertir tanto lendo Ulisses quanto lendo um livro com esses elementos?

Claro que sim! Os acadêmicos ficam com o Joyce e se divertem com eles. Tiram a roupa dele, contam sua celulite e decidem que, mesmo com celulite e mau humor, aquela mulher é amor de sua vida.

Os leitores que lêem por prazer correm atrás das putas.

Gostosas, mas que não valem nada...(como os acadêmicos querem que pensemos).

Um comentário:

  1. RSRSRSRSRSRSRS!!!

    A-DO-REI ler isso!

    Sabe Cher... eu queria ter ainda essa visão romântica sobre os livros e a literatura para poder afirmar impunemente que “os livros foram feitos para serem lidos! As análises e as criticas são a filosofia por trás da arte, e como toda boa filosofia, obscurece o óbvio”, e que o óbvio é ler “por prazer”.

    Infelizmente, depois de ler tantos e tantos livros... e, mea culpa!, tanta teoria e crítica literária e, mais ainda, Filosofia... eu estou contaminado. Sou um impuro! Um herege! Um leproso! Pior: sou um heresiarca, que, mais do que ser um herege, incita a heresia nas outras pessoas. Eu tenho o meu óbvio escurecido e, por isso, às vezes me pergunto (a sério... não estou zoando e nem ironizando em nada aqui): será que eu existo? Sim, porque ontem eu estava lavando louça (prosaico isso, não?) e, quando lavei uma faca aconteceu uma epifania (sim, uma epifania! Com soar de clarins e tudo!): eu estava enxaguando a faca e passei a lâmina dela pelo fio de água que saía da torneira. Foi então que fui possuído e, sem que eu quisesse, uma pergunta saiu, sussurrada, da minha boca (ou talvez minha boca tenha saído da pergunta... isso depende da perspectiva, é claro, se minha ou da pergunta, e eu aqui estou partindo da minha perspectiva rsrsrsrs): entre a faca e a água, quem corta quem: a faca que corta a água, ou a água que corta a faca?... Não me pergunte qual a resposta porque eu não sei. Só sei que o simples fato dessa epifania (idiota) ter ocorrido me fez desconfiar da minha própria existência...

    Enfim, depois de ler a “A puta e o Joyce” eu fiquei me perguntando se algum dia eu li por prazer. Remoí, remoí e remoí. Pensei, pensei e pensei. Consultei minha lista de livros e textos lidos (sim, eu sou neurótico: eu faço listas dessas coisas!). Acabei concluindo, com tristeza, que não, que nunca li por prazer, nem quando eu li 60 livros da Agatha Christie na minha adolescência. Logo, eu nunca corri atrás de uma puta gostosa que não vale nada (chamem a Globo e a Veja! Cido revela seus segredos! RSRSRSRSRS), o que não quer dizer que eu seja casto e puro...

    Bom... se eu nunca li por prazer, então eu devo ser um acadêmico, certo? Humm... isso, de acordo com “A puta e o Joyce”, não parece ser legal... Tirar a roupa do Joyce (argh!) e contar as celulites dele (Jesus, have mercy!) não é uma coisa muito agradável de fazer... KKKKKK!

    Aí eu me perguntei de novo: minha Santa Sarah, meu São Sebastião, será que eu li errado Poe, Tolkien, Rowling, Stoker, Wilde, Dante, Blake, Homero e tantos outros? Será que em nenhum momento eu tive algum prazer lendo esses caras? Sim, por que na minha leitura todos eles filosofam, fazem teoria pura sobre a literatura e não apenas literatura... O que é “Willian Wilson” senão uma teoria da personalidade? O que é O Senhor dos Anéis senão a saga do herói? O que é Harry Potter senão o drama da existência? O que é Drácula senão um estudo sobre o medo e a sexualidade? E por aí vai... E eu não consegui chegar a nenhuma resposta, mas a outras perguntas piores: Virgem de Fátima, então eu li erradíssimo Freud, Derrida, Lacan, Platão, as feministas francesas! Sim, por que esses caras, na minha leitura, fazem literatura, e não apenas Filosofia ou teoria... O que é o Inconsciente senão o próprio imaginário? O que é a teoria da escritura senão o próprio multiverso infinito da literatura? O inconsciente, para Lacan, é linguagem, ou seja, do que a literatura é feita... e por aí vai de novo.

    Eu realmente fiquei perdido, Cher, depois de ler “A puta e o Joyce”. Eu vou precisar aprender a ler por prazer, a me divertir com os textos que eu leio, por que eu realmente não sei fazer isso e os textos que eu li até hoje, tanto os de literatura quanto os de teoria, não me ensinaram como se faz para ler por prazer e se divertir. O problema é meu, é claro, e não dos textos... e eu começo a acreditar, REALMENTE, que eu não existo...

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