Ontem estava comentando com o meu
namorado sobre o sensacional livro 1984 de George Orwell. Ele ainda não leu e, na verdade, o papo
chegou nele através de outro livro: O Manifesto Comunista, de Marx.
Ler O Manifesto hoje é poder
olhar para a história e ver como as utopias são furadas. Tentar viver em uma
sociedade socialista é negar a natureza do homem. As pessoas não são como as
abelhas, que aceitam as suas funções sem reclamar. E também são muito egoístas para
aceitar que não podem ter mais que as outras pessoas. O conceito de igualdade é
assustador para todos, pois a única maneira que o ser humano conhece de se sentir
especial é possuir coisas. Possuir bens, ou diplomas, ou vantagens. Em minha
opinião, a natureza do homem já está tão mascarada no meio de todas as regras
sociais, etiqueta, leis e convívio, que seria realmente impossível aplicar o
socialismo em grande escala. Mas, temos alguns bons exemplos de pequenas sociedades
que vivem bem com o modelo do socialismo, embora isso geralmente implique religião
(o ópio do povo, meu Deus!!) ou ideologias – vide os hippies e os amish.
No livro de Orwell a sociedade é
bem calminha, tranqüila e cumpridora de seus deveres. As pessoas são como
abelhas, que vivem em função de fazer as coisas funcionarem. Claro que isso tem
um preço, que é a falta de liberdade. Em tudo. Falta de liberdade de ir e vir,
de falhar, de se expressar e de pensar.
O que me pegou em 1984 foi exatamente
a maneira como Orwell conseguiu mostrar uma sociedade que aceita esse tipo de
controle. Orwell não podou a liberdade de expressão da sociedade. Ele tirou
essa capacidade das pessoas, tirando-lhe as palavras.
Eis que surge uma das ideias mais
geniais que já li sobre controle social: a novilíngua.
A novilíngua consiste em
restringir o significado das palavras, através de cortes de significado,
composição de palavras e significados.
Um exemplo que acho genial é o que
fizeram com certos adjetivos (aqui estou tomando certa licença por que não lembro
quais são exatamente os termos). As palavras péssimo e maravilhoso são substituídas
pelas palavras unbom e plusbom. Ou seja, o que existe é só a palavra para
expressar qualidades que não são opostas entre si, mas tem significado
totalmente diferente. Essa foi a maneira que o governo autoritarista de 1984
descobriu para controlar toda uma
sociedade.
As pessoas podem não pensar nisso
nunca, mas o poder que as palavras exercem sobre tudo o que nos rodeia, é incrível.
Cada coisa deve ser nomeada para passar a existir. Cada sentimento deve pode
ser expressado por existir uma palavra que o defina. Até simples objetos
deixariam de existir se não tivessem nome. Mesmo que o objeto estivesse ao
alcance de sua vista, ele não existiria se não tivesse nome, pois se você não pode
falar sobre ele, ele não está lá. O que Orwell faz é tirar qualquer significado
das palavras. É tirar seu sentido de maneira que ao expressá-la, a palavra se
torna vazia.
Imagine a língua como algo vivo, mutável,
cheio de novas possibilidades. A língua não são só palavras. São gestos, tons
de voz, escrituras, bordões. É língua é o que nos permitiu chegar aonde chegamos
a termos de tecnologia, ciência, educação, política. Tudo se deve a língua e não
aos polegares. Tudo se deve à nossa capacidade de nos perguntar de podemos
fazer algo novo para facilitar as coisas, e só podemos nos perguntar através da
língua.
Orwell quebra esse processo de
pensamento quando reduz a língua ao simples ato de comunicar ideias simples. Quando
não existem mais palavras para se expressar, o pensamento deixa de ser
complexo. As ideias desaparecem e as vontades se vão com elas.
No mundo do Grande Irmão as
pessoas estão presas em ideias pré estabelecidas das quais não podem fugir por não
ter noção de que aquilo não é verdade absoluta. Um mundo pode ser completamente
dominado, não a partir de guerras, mas pelo recurso de deixar as pessoas sem
ter o que dizer.
Voltando às pequenas células do
socialismo, ele só funciona em pequena escala por que ele precisa de isolamento
de ideias. Quando as pessoas são guiadas por uma religião ou ideologia, aquilo
tem sentido maior do que qualquer coisa ao seu redor. Um grupo alienado das
mudanças constantes do mundo pode viver como uma colméia. E em paz.
Então fica a pergunta: melhor
viver em guerra e poder pensar livremente, ou viver em paz, e não pensar?
As ideias socialistas são bonitinhas, mas para mim não passam de utopia. O ser humano é individualista, apesar de viver em sociedade cada um pussui o seu próprio jeito de encarar as coisas. Então como utilizar uma única maneira, estilo de vida, para toda uma sociedade. Isso recai na questão por você mesma levantada; guerra ou paz? De que vale a paz em se ter uma vida que é literalmente a mesma para todos? Não vejo sentido nisso, não quando se é retirado da gente a capacidade que nos diferencia dos demais animais, pensar, refletir, questionar a nossa existência... A vida é muito curta para deixar ela passar sem sentir pelo menos algumas das muitas coisas que ela tem a oferecer.
ResponderExcluirainda não li nenhum livro dele. entre guerra e paz eu preferiria não viver.
ResponderExcluiré bem por ai:
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=YmxNx2UT5Dk