quarta-feira, 21 de março de 2012

Por que a prostituição sobrevive?

Dizem que a prostituição é a profissão mais antiga do mundo.
Imagino quer deve ser também uma das profissões mais citadas na bíblia sagrada, uma das mais apelidadas e isso deve ser uma droga pras pobres profissionais do sexo, na maioria das vezes. Tirando essas garotas de programa de luxo, imagino que as mulheres acabem tendo que sair com qualquer homem que aparecer, não interessando a idade, o cheiro e a circunferência da barriga. Deve ser foda.
Mas, ainda é melhor do que roubar, certo?
Enfim, esses dias eu tive uma conversa e depois fiquei pensando sobre essa profissão e por que ela ainda está tão em evidência por ai. Imagino que antes dessa liberação sexual, as prostitutas tinham uma utilidade muito maior, pois era o meio de um homem conseguir fazer sexo sem ser casado, ou variar um pouquinho do arroz e feijão de casa.
Mas com a coisa toda da pílula, do sutiã, da mulher no mercado de trabalho e a tal maldita independência, as mulheres andam dando por ai com maior rapidez do que o homem pode arcar.
Então por que ainda existe esse filão do mercado que são as garotas de programa?
Eu pensei, pensei (isso que dá não ter nada pra fazer por muito tempo) e cheguei à conclusão de que a mulher nunca faz sexo de graça. NUNCA.
As vadias das festas cobram em bebidas, as pegajosas e obcecadas em atenção, as carentes em afetos e afagos...e as certinhas...ai fica muito mais caro.
Um homem que quer transar com uma mulher (sem pagar) tem que ter um local apropriado para a caça e mesmo assim não é certo que vá arrumar nada no fim da noite. Se for feio então, minha filha...esquece. Um cara que quer uma transa de uma noite tem que pagar por um motel e muitas vezes ainda dormir com a mulher depois, falar da vida, ouvir ( o que é pior ( nessa parte eu acho que sou homem)).
Um cara que sai com uma certinha (aquelas que selecionam quem levam para a cama) vai precisar no mínimo pagar um jantar, comprar uma camisa nova, pagar o motel, ouvir os papos e pelo menos fazer um esforço para mostrar para aquela mulher que ele é digno de uma trepada. Isso também pode ser um tiro no escuro, por que o cara pode:
- não conseguir a trepada
- conseguir e ela ser muito, muito ruim.
- conseguir e a mulher achar que os dois estão em um relacionamento.
Além do mais, quando um homem leva uma mulher para jantar eles têm que ter algum contato anterior, o que significa que ela, provavelmente, tem o telefone dele, e se ela for uma daquelas loucas pegajosas, bem, fudeu.
Isso sem contar as esposas. Homens que querem casar preparem-se para não ter mais vida própria, dinheiro seu, silêncio e paz. Você vai conquistar o direito de ter uma mulher que vai te dizer não, muitas vezes, em muitos casos, e vai controlar seu horário, seu dinheiro (e provavelmente detestar a sua mãe).
No fim acho que a prostituição é um meio mais barato, seguro de obter o que se compra e sem complicações desnecessárias de se obter sexo. Desde antes de Cristo.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Os deuses de Martin - Crônicas de Gelo e Fogo


As mitologias existentes nas Crônicas de Gelo e Fogo são excelentes.
Existem muitas terras, e com elas, vários deuses. Uma coisa que tenho notado, na leitura deste quarto livro é como a questão religiosa foi crescendo durante a trama.
Em GdGeF cada povo tem suas próprias crenças, e Martin consegue tratar essa situação de maneira muito interessante. Em vários aspectos, as diferenças religiosas são aceitas, ou pelo menos toleradas, mas com o desenvolvimento da história, como avanço da guerra, com as modificações de poder, as tolerâncias estão terminando.
Dois aspectos interessantes da religião em GoT são as ideias do Deus único e do Deus afogado.
Primeiramente podemos dizer que as crenças religiosas se adaptam ao local onde as pessoas vivem. Os deuses árvores com cara de coração são os reis do norte, onde existem florestas vastas e muitas árvores. O Deus Afogado é um deus do mar, adorado pelos moradores das ilhas de ferro.
Gosto muito da concepção do Deus Afogado. Ele se encaixa perfeitamente na maneira como os homens de ferro vivem. Através de seus sacerdotes (e o principal deles, Cabelo Molhado, é muitíssimo devoto) o Deus Afogado fala, e sua maneira de se comunicar é através das ondas. Fiquei muito surpresa com a maneira como Martin apresenta os rituais para o Deus Afogado. O povo das Ilhas de Ferro vive quase que exclusivamente do mar. Existem capitães e tripulação em centenas de navios. Um povo que vive do mar, não pode ter medo dele, e para isso os sacerdotes afogam os devotos, transformando-os em parte do mar. O ritual de afogamento e ressuscitação dá a ideia ao devoto de que ele sobreviveu ao mar. E que depois disso ele tem que temer outros perigos, mas não aquilo pelo que já passou. É uma ótima lavagem cerebral, uma concepção extremamente interessante e que se cerca de outras ideias também interessantes, como a de que o último lar de um devoto é embaixo do mar (literal e figurativamente). Um homem devoto terá seu lugar no reino embaixo do mar depois de sua morte terrena e por isso não tem que temer nunca a morte. Essa ideia religiosa funciona muito bem para criar homens destemidos para a guerra. Os homens de ferro são grandes lutadores.
Há outros deuses, e para mim o que é mais interessante é R'holor. Ele é o chamado deus único e seus sacerdotes são os mais intolerantes de todos os sete reinos. Na verdade os sacerdotes vermelhos incitam a intolerância e fazem guerra através do nome do deus. Nesta seita, existe o deus e seu oposto. A chama e luz e a escuridão. Lembra o que mesmo?
Um dos reis que está reclamando o reino é Stannis. Ele segue, um pouco a contra gosto acredito, Melissandre, que é uma sacerdotisa vermelha com poderes realmente grandes. Existe magia em Melissandre e ela deve essa magia (negra, ao meu ver) ao seu deus único. No momento Stannis usa em suas armas o símbolo do veado (que é o símbolo de sua casa) misturado com o vermelho do deus R'holor.
A batalha em GoT está cada vez mais focada em motivos religiosos. Os sacerdotes dos sete reinos estão pegando em armas e a guerra fez com que muitos templo e pessoas santas fossem conspurcados.
Cada vez mais eu vejo As Crônicas de Gelo e Fogo como uma paródia da vida real. Com os menos ideais distorcidos. Acredito que em algum momento essa Jihad se torne o foco principal da luta e ai, que os Sete nos protejam.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Abelhas e zumbidos – o socialismo e o entendimento de língua.


Ontem estava comentando com o meu namorado sobre o sensacional livro 1984 de George Orwell.  Ele ainda não leu e, na verdade, o papo chegou nele através de outro livro: O Manifesto Comunista, de Marx.
Ler O Manifesto hoje é poder olhar para a história e ver como as utopias são furadas. Tentar viver em uma sociedade socialista é negar a natureza do homem. As pessoas não são como as abelhas, que aceitam as suas funções sem reclamar. E também são muito egoístas para aceitar que não podem ter mais que as outras pessoas. O conceito de igualdade é assustador para todos, pois a única maneira que o ser humano conhece de se sentir especial é possuir coisas. Possuir bens, ou diplomas, ou vantagens. Em minha opinião, a natureza do homem já está tão mascarada no meio de todas as regras sociais, etiqueta, leis e convívio, que seria realmente impossível aplicar o socialismo em grande escala. Mas, temos alguns bons exemplos de pequenas sociedades que vivem bem com o modelo do socialismo, embora isso geralmente implique religião (o ópio do povo, meu Deus!!) ou ideologias – vide os hippies e os amish.
No livro de Orwell a sociedade é bem calminha, tranqüila e cumpridora de seus deveres. As pessoas são como abelhas, que vivem em função de fazer as coisas funcionarem. Claro que isso tem um preço, que é a falta de liberdade. Em tudo. Falta de liberdade de ir e vir, de falhar, de se expressar e de pensar.
O que me pegou em 1984 foi exatamente a maneira como Orwell conseguiu mostrar uma sociedade que aceita esse tipo de controle. Orwell não podou a liberdade de expressão da sociedade. Ele tirou essa capacidade das pessoas, tirando-lhe as palavras.
Eis que surge uma das ideias mais geniais que já li sobre controle social: a novilíngua.
A novilíngua consiste em restringir o significado das palavras, através de cortes de significado, composição de palavras e significados.
Um exemplo que acho genial é o que fizeram com certos adjetivos (aqui estou tomando certa licença por que não lembro quais são exatamente os termos). As palavras péssimo e maravilhoso são substituídas pelas palavras unbom e plusbom. Ou seja, o que existe é só a palavra para expressar qualidades que não são opostas entre si, mas tem significado totalmente diferente. Essa foi a maneira que o governo autoritarista de 1984 descobriu para  controlar toda uma sociedade.
As pessoas podem não pensar nisso nunca, mas o poder que as palavras exercem sobre tudo o que nos rodeia, é incrível. Cada coisa deve ser nomeada para passar a existir. Cada sentimento deve pode ser expressado por existir uma palavra que o defina. Até simples objetos deixariam de existir se não tivessem nome. Mesmo que o objeto estivesse ao alcance de sua vista, ele não existiria se não tivesse nome, pois se você não pode falar sobre ele, ele não está lá. O que Orwell faz é tirar qualquer significado das palavras. É tirar seu sentido de maneira que ao expressá-la, a palavra se torna vazia.
Imagine a língua como algo vivo, mutável, cheio de novas possibilidades. A língua não são só palavras. São gestos, tons de voz, escrituras, bordões. É língua é o que nos permitiu chegar aonde chegamos a termos de tecnologia, ciência, educação, política. Tudo se deve a língua e não aos polegares. Tudo se deve à nossa capacidade de nos perguntar de podemos fazer algo novo para facilitar as coisas, e só podemos nos perguntar através da língua.
Orwell quebra esse processo de pensamento quando reduz a língua ao simples ato de comunicar ideias simples. Quando não existem mais palavras para se expressar, o pensamento deixa de ser complexo. As ideias desaparecem e as vontades se vão com elas.
No mundo do Grande Irmão as pessoas estão presas em ideias pré estabelecidas das quais não podem fugir por não ter noção de que aquilo não é verdade absoluta. Um mundo pode ser completamente dominado, não a partir de guerras, mas pelo recurso de deixar as pessoas sem ter o que dizer.
Voltando às pequenas células do socialismo, ele só funciona em pequena escala por que ele precisa de isolamento de ideias. Quando as pessoas são guiadas por uma religião ou ideologia, aquilo tem sentido maior do que qualquer coisa ao seu redor. Um grupo alienado das mudanças constantes do mundo pode viver como uma colméia. E em paz.
Então fica a pergunta: melhor viver em guerra e poder pensar livremente, ou viver em paz, e não pensar?