segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O Universo feminino de Stephen King


Ontem terminei de ler mais um texto de Stephen King. Com o passar dos anos, a faculdade de Letras e os títulos mais clássicos, o mestre do horror foi ficando cada vez mais de lado na minha lista de leituras, mas de vez em quando, sento e devoro um dos livros dele, e isso é divertido. O escolhido dessa vez foi Rose Madder, que eu jurava que nunca tinha lido, mas já tinha. Percebi que era uma releitura no meio do primeiro capitulo, comecei relembrar algumas partes, mas continuei, por que desta vez li o livro de uma perspectiva mais, talvez, adulta.
Resolvi escrever esse post, não para falar sobre Rose Madder, mas para colocar em ordem alguns pensamentos meus sobre as obras com heroínas de King. Não sei se minha lista vai ficar completa, mas há alguns destaques entre as personagens de Stephen King, que me fazem pensar que ele conhece bem o que se passa no interior das mulheres.
São vários os livros dele que nos remetem ao mundo feminino.

Em Carrie, (1972) temos como abertura a cena em que Carrie White menstrua pela primeira vez, aos dezesseis anos. A primeira situação que chama atenção na cena é a crueldade das outras meninas humilhando Carrie enquanto ela está desesperada por estar sangrando sem saber por que. King nos dá uma visão interessante através de Sue Snell. Carrie é uma pária na escola, por conta de suas próprias atitudes, as roupas que veste, sua aparência em geral. Sue sente nojo, ódio, pena de Carrie, e por ser adolescente, não consegue lidar bem com esses sentimentos. É uma das colegas que joga absorventes em Carrie enquanto ela chora e sangra no banheiro. A crueldade com que as meninas tratam Carrie, naquele momento para sue, é culpa de Carrie. Até mesmo a responsável pelas alunas, a professora se ginástica, sente em um primeiro momento vontade de esbofetear Carrie, por sua estupidez. A senhorita Desjardim consegue se controlar, mas aquele sentimento de repulsa por Carrie não desaparece completamente. Todo o texto de Carrie é sobre o universo feminino. E sobre adolescência. King permeou o texto com histórias e sentimentos de mulheres e os poucos personagens masculinos são nulos. Enquanto Carrie é uma vitima, Chris Hargensen é a algoz. Uma garota rica, mimada e popular, que faz de Carrie sua vitima preferida. Stephen King resumiu nesse livro a clássica disputa da High School americana, entre os populares e os perdedores. Mas não só isso. Mostrou por que essa rixa existe. Vandalizar Carrie é defender-se daquilo que Chris não quer ser. É se garantir como a pessoa de destaque, sem deixar brecha para ninguém mais.
E depois há a criação de Carrie. Ele não teve pai. Foi criada em um ambiente opressor por uma mãe fanática religiosa com ideias muito estranhas sobre como as coisas funcionam no mundo. O espaço de Carrie é dividido em dois. Dois mundos completamente diferentes. Um dominado pela mãe de Carrie, Margaret, e o outro dominado pela crueldade de crianças que tentam se firmar.
É ainda um mistério Margaret não ter educado Carrie em casa. A menina sempre cresceu a parte da sociedade, tendo convivência mínima com outras pessoas que não fosse sua mãe. Ela foi criada para acreditar que o mundo era um lugar cruel, indecente e pecador. Não é a ideia que Carrie tem do mundo, no entanto. Ela quer estar nele. Quer fazer parte daquilo que considera natural e ao mesmo tempo entende que não se encaixa neste mundo. Carrie é a história de uma garota entrando na adolescência, elevada a quinta potência.

Outro título que fala sobre mulheres é A Incendiária (1980). Firestarter é um livro diferente de tudo o que King escreveu. E entra em três categorias distintas dos personagens de King. É um livro sobre mulheres, mas é um livro sobre homens e sobre crianças. Charlie Mcgee é uma menina. Oito anos de idade. Mas ela já sabe fugir, se esconder e roubar. A Incendiária é um livro sobre teoria da conspiração. O governo testou nos pais de Charlie (antes que eles se casassem) uma vacina que deu aos dois poderes psíquicos. Vicky pode mover pequenos objetos com a mente, e seu marido, Andy, consegue manipular o pensamento das pessoas para que realizem sua vontade. Nada absurdamente grande. Só pequenas coisas como fazer um grupo de mulheres gordas caminharem e esquecerem de comer porcaria. Eles se casam e tem uma filha, Charlene. O que eles não sabem é que o governo vigia a menina de perto, já que ela é um efeito colateral do teste que aplicaram nos pais. Vicky é assassinada quando agentes do governo procuram por Charlie, depois de perceberem que ela tem poderes pirocinéticos. Charlie pode atear fogo com o poder da mente. A história é sobre fuga e depois captura de Charlie pelo governo. E sobre a sua necessidade de controle. Charlie tem um poder muito maior que o dos pais, e precisa aprender controlá-lo. Mas ela é só uma garotinha. Quando ela é capturada e separada do pai, aparece um dos personagens mais intrigantes de Stephen King. Rainbird. Ele é um índio, um assassino, e alguém em busca de receber uma grande revelação através da morte de outras pessoas. Rainbird se aproxima de Charlie como se fosse o faxineiro do complexo em que ela está presa, e eles se tornam parceiros. Existe uma leve sugestão sexual na relação entre o índio e Charlie. Embora ela só tenha oito anos, e o desejo de Rainbird seja matá-la, em algumas cenas tem-se a impressão de que ele também está apaixonado por ela. Ele não vê a criança que Charlie é, mas vê um grande ser de poder na figura da garota. É uma mistura de desejo, inveja, vingança. O interessante é observar a diferença entre a Charlie do começo da história e a menina que consegue explodir todo um complexo do governo e escapar. Charlie é uma evolução de si mesma, que tem que superar em pouco tempo a morte dos pais e a ideia de que agora ela é sozinha no mundo, além de controlar sua raiva, para que não coloque fogo no mundo.

Jogo Perigoso (1992) é um livro totalmente feminino. É a história de uma mulher algemada em uma cama, sem condições de escapar. As implicações de Jogo Perigoso são imensas. Primeiramente, Jessie Burlingame está para ser estuprada pelo seu próprio marido. Depois de aceitar ser algemada na casa do lago do casal, Jessie decide que não quer mais fazer sexo daquela maneira. O marido - Gerald - aceita as recusas da esposa como se elas fossem parte do jogo masoquista, Jessie perde o controle e acerta o marido, gordo, na virilha causando sua morte por ataque cardíaco. Jessie se vê presa em uma cama, em um lugar ermo, com o marido morto do lado. Esse livro não tem nada de sobrenatural. É o terror puro de uma mulher que se vê presa não só fisicamente, mas nas lembranças de sua infância, com uma mãe ciumenta e cruel por que o marido (pai de Jessie) é atraído sexualmente por ela. A mesma situação pode ser vista com Bev, em A Coisa. No caso de Jessie, há a lembrança clara de um dia de eclipse, em que ela se arrumou especialmente para o pai, que abusa dela enquanto ela observa o sol se esconder. Essa lembrança enterrada na mente de Jessie vem à tona com outras, no momento em que ela se vê impossibilitada de sair daquela armadilha. Jogo Perigoso tem seus elementos de horror mais físicos, como um necrófilo que “visita” Jessie durante a noite e a observa, ou o cachorro que começa comer partes do seu marido, depois de passar fome ao ser abandonado pelos donos. Mas Gerald’s Game não precisava disso. A própria situação de Jessie estar persa com suas lembranças, algemada e com sede já é o suficiente para abrir espaço para o medo, pelo menos para mulheres. A história de Jessie é pavorosa por si mesma, e também um bom exemplo de como as pessoas se adaptam aos traumas para poderem viver novamente. Aquelas sombras estão sempre lá, e às vezes, elas reaparecem para assustar, mas na maioria do tempo pode-se guardá-las no fundo da mente, simplesmente para sobreviver. Jogo Perigoso mostra a mulher criando coragem de enfrentar todos seus medos e traumas, usando esses sentimentos de raiva, decepção, medo e nojo para poder superar a situação mais emergencial. Jessie escapa da cama em que estava presa, mas nunca mais será a mesma mulher.

Dolores Claiborne, com o titulo no Brasil de Eclipse Total (1992) é, sem dúvida, a melhor narrativa de King. Quem narra a história, em só fôlego, é Dolores, moradora de uma ilha no Maine, que tem muita história pra contar. Sua patroa, Vera Donavan, morre e deixa pra ela uma herança. A polícia a interroga sobre a morte da patroa e Dolores desfia a historia de sua vida para os policiais. Dolores é uma mocinha ingênua, que se casa com um homem ruim, e desde o começo tem que sustentar a casa e os filhos. Ela é uma lutadora, que vai trabalhar com Vera e tem que agüentar muitas humilhações para colocar comida na mesa. Os problemas de Dolores com o marido, os filhos, a patroa, são imensos, mas pioram muito quando ela finalmente descobre que o pai de seus filhos vem abusando se sua menina de 15 anos. A história de Dolores não tem elementos sobrenaturais como outros textos se Stephen King. É um texto sobre o que uma mãe pode fazer pelos filhos. Eclipse Total foi dedicado a mãe do autor, e retrata até onde uma mãe pode chegar para proteger sua prole. A história também retrata como foi a vida de Vera, que perdeu os filhos em um acidente, e por se sentir extremamente culpada por isso, não admite que eles estejam mortos. Vera, aos poucos, vai enlouquecendo e Dolores é a única pessoa que ela aceita que esteja por perto. Dolores convive com a loucura de Vera, o sofrimento de seus filhos quando crianças, o distanciamento deles depois de adultos, a própria velhice e além de tudo, tem que lidar com o fato de que não sente nenhum pingo de culpa por ter assassinado o marido.

O livro que me trouxe aqui, Rose Madder (1995), conta sobre uma mulher que foge do marido violento. Na primeira cena, Rosie está sofrendo um aborto, depois de ser espancada. Fazia muitos anos que uma cena não me fazia passar mal como essa. Ao ler sobre Rosie perdendo o bebê, minha pressão caiu e fiquei tonta. Depois de vestir minha capa de indiferença, levei o livro em diante e fui relembrando como era a história da fuga de Rosie. Depois de ser espancada por 14 anos, de formas horríveis, Rosie acorda uma manhã e vê uma gota de sangue no seu lado do lençol. Aquela mancha de sangue desencadeia nela a reação da fuça. Sem ao menos pegar um casaco, Rosie foge do marido, e vai para outra cidade. Lá começa a se recuperar, construir uma vida. Mas Norman, o marido, ainda não terminou com ela. Rose Madder tem umas coisas bem decepcionantes, como o pouco foco em outros personagens que não sejam Rosie e Norman. Ainda assim, é uma história muito interessante, em que se pode sentir pena e amor por Rosie, torcer para que ela seja feliz. E sentir medo por ela, cada vez que Norman consegue mais uma pista de onde ela pode estar. A superação de Rosie, com a ajuda de um quadro que é uma janela para outro mundo, é muito bonita de se ver. Um ser amedrontado vai se revestindo de coragem para dizer nunca mais aos abusos domésticos. A loucura de Norman, sua obsessão por vingança, a maneira como ele fantasia matar Rosie, leva o leitor a um clímax quando ele a encontra. A realidade com que King retrata as violências sofridas por Rosie dá um nó no estomago. Além disso, ao entrar no mundo do quadro, King dá ao leitor a percepção de coisas muito maiores que estão para acontecer ao mundo, e que talvez Rosie estivesse destinada a passar por todo aquele horror para poder fazer parte de algo maior. Em Rose Madder, a realidade da violência domestica atinge o leitor e pode-se entender que isso acontece em muitos lares, perto de nós.

Esse post tem por objetivo mostrar um pouco de Stephen King e sua relação com o universo feminino. Nem todos os livros estão aqui, mas as histórias aqui retratadas podem mostrar um pouco do conhecimento dele com um mundo que é tão misterioso para a maioria dos homens, são historias de dores, traumas e superação, e se king tivesse enveredado por esse lado ao invés de escrever historias de monstros, talvez fosse um autor um pouco mais respeitado. Mas, pelo menos, ele tem a nós, os leitores fiéis. 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Sobre o casamento, relação, convívio social e filhos de homossexuais.




Sou totalmente a favor da união de pessoas do mesmo sexo. Portanto, se você é um hater, pode parar de ler aqui.  Eu não consigo entender por que esse assunto ainda causa tanta polemica no mundo ocidental. A homossexualidade existe desde que o mundo é mundo, e os gays sempre foram discriminados na sociedade por causa da sua “opção sexual”. Não acredito que ser homossexual é uma opção. Ninguém opta por ser discriminado, mal visto, abusado, espancado e julgado. Não é por que um cara é gay que ele é pervertido, nem por que a menina é lésbica ela vai sair por ai se aproveitando das outras mulheres.  
Eu acho muito revoltante as pessoas que pregam a “palavra de Deus” e diz que ser gay é antinatural. O que seria natural? Procriar? Se é assim, a Igreja, ou as igrejas, não deveriam aceitar casais que usam controle de natalidade. O pior é que a sociedade acaba usando os dogmas religiosos para criarem leis. E eis por que os homossexuais não podiam oficializar uniões no Brasil. Agora podem, mas não é um “casamento”.
A sociedade não aceitava as mulheres no mercado de trabalho, e hoje somos uma força trabalhadora de liderança no Brasil e em boa parte do mundo. Os negros que são marginalizados até hoje, estão encontrando cada vez mais seu lugar ao sol, e os homossexuais tem o mesmo direito que todas as outras pessoas de mostrarem orgulho de terem um parceiro, e desejo e possibilidade de construir uma família. Por que não??
Hoje perguntei para uma pessoa o que ela acha do casamento entre pessoas no mesmo sexo e ela disse que acha ok. Perguntei o que ela acha de um casal gay criando uma criança. Ela disse que eles deveriam ser investigados primeiro...EU ACHO que se alguém, independente da sexualidade, for adotar uma criança, deve sofrer investigação. Mas não por ser gay. Quantas mães abandonam seus filhos biológicos em lixeiras? Quantos pais abusam de seus filhos e filhas?
Quando eu digo que sou a favor da união de pessoas do mesmo sexo, estou dizendo que sou a favor das pessoas escolherem com quem vão viver suas vidas, construir sonhos, criar filhos e serem felizes. Sem o risco de apanhar na rua, sem situações constrangedoras  - como um filho chegar em casa chorando porque os coleguinhas tiraram sarro dele na escola.
Quando eu digo que sou simpática à luta gay, quero dizer que pra mim, as pessoas deveriam ser tratadas como tal, independente da religião, da cor, do sexo ou de com quem querem fazer sexo (desde que consensual). As pessoas deveriam poder chegar em casa, da um beijo no marido, esposa ou companheiro, tomar um taça de vinho ou abrir uma cerveja e poder falar de todos os problemas comuns do dia a dia, que já são tantos. E não ter que militar por direitos que foram tirados tão irracionalmente.