Todo mundo sabe da minha paixão
nada secreta, porém vergonhosa por best sellers. Não que eu leia qualquer Best seller,
mas a minha queda por romances policiais e de suspense me leva, às vezes, a
consumir alguns textos que a critica acha duvidosos, embora eu ache é muito
divertido!
Além disso, ainda há aquela coisa
com os escritores de Best Sellers. Eles são os que tiraram a sorte grande, os
ganhadores da loteria de um mercado que é extremamente competitivo e difícil. Não
é só “cair nas graças do público”. Antes de ser um cara famoso, o escritor tem
que ser aceito por uma editora. Essa editora tem que acreditar no seu potencial
e divulgá-lo. O público tem que arriscar sair daquela zona de conforto dos
autores conhecidos e experimentar coisas novas. E apesar de tudo isso ser
difícil, há a parte mais difícil: escrever.
Dizem por ai que os escritores de
linha de produção (os que lançam pelo menos um titulo por ano) têm uma fórmula
para escrever. Eu concordo. Se você pega um livro da Danielle Steel verá uma
mulher muito rica que sofre nas mãos de um cafajeste, passa por apertos
financeiros e depois redescobre o amor verdadeiro em um cara mais podre de rico
ainda. Esse tipo de livro vende (ou vendia) porque mulheres têm carência de
duas coisas: amor mágico e vida de luxo. Ler um livro de DS era entrar em um
mundo mágico de riqueza e luxo e mesmo assim saber que as mulheres têm problemas
reais. (ok, isso é um saco, mas quando eu tinha 14/15 anos chorei muito com os
livros da madame Steel.
Sidney Sheldon (que até hoje é
redescoberto por pessoas de 16 anos (eu sempre fico passada quando ouço pessoas
de 16 anos lendo SS)), tem sua própria fórmula. Personagem principal: mulher
que sofre uma injustiça e sai quebrando tudo. Eu também gostava. Aliás, tem um,
sobre uma moça inocente que é presa injustamente e sai para virar uma griftter,
que eu ainda adoro (!). Ao contrário da DS, SS escreveu “apenas” uns 15 livros.
A fórmula ainda é obvia, mas como as histórias eram mais bem desenvolvidas,
(falavam sobre política, imprensa, psicologia e crime), os livros dele eram
mais divertidos.
Hoje em dia não consigo mais
engolir romances, pelo menos não romances “mais vendidos”, embora esteja
adquirindo uma queda por certos romances clássicos. Por isso quando as pessoas
me dizem que “Cher, você tem que ler Sparks” eu dou meu melhor sorrisinho e
ignoro (aliás, as pessoas que sabem o quanto eu sou fissurada em leitura têm a
ideia de me indicar qualquer coisa, tipo A Cabana). No entanto, existem dois escritores de best seller
que eu estou consumindo agora e me divertindo horrores.
O primeiro é uma paixão mais
antiga, e versa sobre um tema que eu adoro: tribunais. O escritor é o advogado estadunidense
John Grisham e muitos dos seus livros se tornaram excelentes adaptações de
cinema. Entre ficções e não ficções, livros de tribunal e um ou outro sobre assuntos
como futebol americano e a vida no interior, Grisham conseguiu um status bacana
entre os escritores atuais. Seus livros versam principalmente sobre jovens
advogados em inicio de carreira que conseguem alcançar um objetivo quase impossível.
Ai está a formula. Mas o bacana em Grisham é a maneira como ele utiliza a
pesquisa e as leis reais para complementar suas histórias. Além disso, pode-se
perceber em seus textos o quanto os Estados Unidos pode ser corrupto, indigno e
racista. Uma característica que noto nessa nova onda de Best Sellers, é a falta
de importância que os escritores são com o dinheiro. Não vou fazer uma
descrição social dos novos leitores, mas os mundos de luxo de DS e SS, Harold
Robins e companhia não é mais a pedra fundamental do sucesso dos romances de
larga produção. Hoje as pessoas querem ler sobre os que estão subindo na vida,
batalhando e buscando o sucesso. As mulheres não querem mais ficar em casa,
cuidar dos filhos e comprar sapatos (elas querem só comprar sapatos!). As
mulheres querem uma carreira. Os homens querem uma carreira. E por isso os
livros de Grisham têm, geralmente, um personagem central masculino, normal, sem
grana e que cativa os dois públicos. Além do mais, o homem escreve de uma maneira
muito interessante. Rápido, mas bem descritivo, incisivo e econômico, de um
jeito que não nos dá a impressão de algo faltando. A vida pessoal das
personagens tem vez nos romances de Grisham, mas são só um reflexo de algo maior:
o trabalho. Os livros de Grisham são sobre a vida que a pessoa está construindo
e as dificuldades disso. Mas são também sobre a superpotência americana manipulando
todo o mundo através das leis. Sobre companhias ricas que estão ricas à custa
dos consumidores, sobre a indústria advocatícia americana e tudo de bom e mal
que há nela. E sem muitos termos técnicos.
Outro autor que ando lendo e
gostando é Harlan Coben. Um dia acredito que ele vai ser um grande nome entre
os escritores de Best seller, e ainda não é por que é cru. Coben escreve
mistérios policiais. O que o faz vender não é sua escrita nem seus personagens.
Coben ainda precisa melhor muito a empatia de seus personagens com o público,
melhorar os diálogos em seus livros e se levar um pouco mais à sério. Como não poderia
deixar de ser, depois da primeira onda de sucesso, Coben criou um detetive só
dele. Um personagem bem fraquinho, na minha opinião. Muito infantilizado e fora
de timing. Mas em uma coisa Coben acertou todas as vezes, até agora: o mistério
em sí. Os mistérios de Coben são bem estruturados, modernos e intrigantes. A maneira
como ele chega à solução do mistério durante o romance é muito bacana e
interessante. O problema de seus livros é que, quando o detetive vai contar o
que realmente aconteceu, nós já sabemos. Mas cá entre nós, ninguém escreve um
mistério como Agatha Christie, e se formos usar ela como parâmetro pro Coben,
ele fica no chinelo.
Enfim, apesar de todos os
defeitos listados e das vezes em que eu li uma frase de Coben e “franzi o
sobrolho”, ainda acredito que ele possa se tornar um grande cara, e enquanto
isso, vou me divertindo com o que consigo.